Na
imensurável e infindável base de imagens disponível na internet, Martinho Costa
escolhe como ponto de partida catástrofes naturais, demolições ou outras
imagens de destruição, que apresenta numa nova série de pinturas, reunidas
sobre o título Ruína, na Galeria 111 – Lisboa, entre 11 de Setembro e 8 de
Novembro.
Atendendo
à escolha deste particular modelo anónimo, e que o dia da inauguração coincide,
casualmente, com os acontecimentos em Nova Iorque a 11 de Setembro de 2001,
estas pinturas concentram-se na actual discussão sobre a decadência do mundo em
que vivemos e, de igual modo, sobre o modo como olhamos para o mesmo. O
Romantismo vindo do século XVIII olhava de uma forma sublime para a força da
natureza. Através da visão do poder incontrolável e indominável, o homem
subjectivo e a sua individualidade eram sempre confortavelmente atacados. O
confronto seria seguro porque era feito através da representação de uma
realidade tenebrosa e nunca através da própria realidade.
Quando
o artista recolhe da internet as imagens contemporâneas de destruição e
decadência também se socorre do mesmo mecanismo Romântico. Mas, esta segunda
representação, sendo que as pinturas são feitas através de reproduções
fotográficas, recentra o alvo: deixa de ser o indivíduo para passar a ser o
estado do mundo, a forma como ele é percepcionado e colectivamente vivido.
Assim, as pinturas ao preservarem a história e ao fixarem a história
contemporânea cumprem o seu mais pertinente e antigo papel. Tal como as
gravuras a partir do século XVI e os retratos que proliferam na história de
arte, estas pinturas “históricas” e de “paisagens”, ao contrário das
fotografias que facilmente se perdem no anonimato da imensa internet,
lembra-nos de que matéria o mundo é feito, lembra-nos de como nós somos feitos.
Galeria 111
Galeria 111